ATA DA DÉCIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 23-5-2002.

 


Aos vinte e três dias do mês de maio do ano dois mil e dois reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e seis minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega da Comenda Pedro Weingärtner ao artista plástico Carlos Carrion de Britto Velho, nos termos do Projeto de Resolução nº 057/01 (Processo nº 2581/01), de autoria da Vereadora Clênia Maranhão. Compuseram a MESA: o Vereador Carlos Alberto Garcia, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; a Senhora Margarete Moraes, Secretária Municipal de Cultura, representante da Prefeitura Municipal de Porto Alegre; o Senhor Carlos Carrion de Britto Velho, Homenageado, e  esposa, Senhora Zuneide  Britto Velho; a Vereadora Clênia Maranhão, na ocasião, Secretária "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos  para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Clênia Maranhão, em nome das Bancadas do PPS, PDT, PPB, PTB, PMDB, PSDB, PSB e PSL, discursou sobre a trajetória profissional e pessoal do Senhor Carlos Carrion de Britto Velho, destacando a diversidade artística da obra do Homenageado e ressaltando a contribuição dada por Sua Senhoria para o desenvolvimento cultural do Estado e do Município. O Vereador Raul Carrion, em nome das Bancadas do PC do B e PT, discorreu sobre a convivência de Sua Excelência com o Homenageado  e  salientou as características de lealdade e solidariedade expressadas por Sua Senhoria ao longo de sua vida. Também, analisou aspectos da obra do referido artista, notadamente no que tange ao desenvolvimento de projetos culturais no segmento operário. A seguir, o Senhor Presidente convidou a Vereadora Clênia Maranhão a proceder à entrega da Comenda Pedro Weingärtner ao Senhor Carlos Carrion de Britto Velho, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu a Comenda recebida. Após, o Senhor Presidente, convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezessete horas e trinta e cinco minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador  Carlos Alberto Garcia e secretariados pela Vereadora Clênia Maranhão, como Secretária "ad hoc". Do que eu, Clênia Maranhão, Secretária "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia) Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à outorga da Comenda Pedro Weingärtner ao artista plástico Carlos Carrion de Britto Velho. Neste ato contamos com a presença da Sr.ª Margarete Moraes, Secretária Municipal da Cultura, representando a Prefeitura Municipal de Porto Alegre e da Sr.ª Zuneide Conceição de Britto Velho, esposa do homenageado.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

A Ver.ª Clênia Maranhão está com a palavra e falará em nome das Bancadas do PPS, PDT, PPB, PTB, PMDB, PSDB, PSB e PSL.

 

A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Sr. Presidente, Sr.as Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Gostaria, neste momento, de compartilhar com vocês, algumas lembranças, dados e história do nosso homenageado. Porto-alegrense de nascimento, que viveu grande parte da sua infância e adolescência, em Buenos Aires, e há mais de trinta anos, ainda muito jovem, fez sua primeira exposição individual, cujas obras vinham marcadas pela inovação, pelo informalismo e, antes de tudo, pela consciência crítica.

Gostaríamos de homenagear Britto Velho, relembrando um pouco de suas história, de sua viagem de estudos a Paris e o estágio realizado na Gráfica Desjober, de 1975 a 1976, onde fortaleceu o desenvolvimento da temática social, numa década onde se proliferavam os sistemas ditatoriais na América Latina. Nessa fase a obra de Britto Velho incorporou elementos que pareciam querer denunciar a realidade, e ao mesmo tempo que o fizeram abrir a mente e o coração para o novo. A esse respeito diz próprio Britto Velho: “Vivi durante pouco mais de um ano em Paris e na Europa, prevalecendo os tons acinzentados. Lá encontrei as raízes da minha nacionalidade, por contraditório que possa parecer; e conheci, também, o que havia de mais novo em termos de vanguarda. Mais tarde, já aqui, percebi estar preso ao colorido europeu... Eu preciso de cor, como um escultor precisa de formas e volumes.”

A importância da cor para Britto Velho, como ele mesmo diz: “A cor é para mim é linguagem, a soma, a superposição, é a expressão básica, semelhante a respirar”. Isso fê-lo ser reconhecido como o poeta da cor.

As diversas fases da obra desse autor foram mostradas em inúmeras exposições individuais, coletivas, salões de arte, elaboração de projetos especiais, demonstrando uma trajetória extremamente brilhante, onde o homem foi sempre o centro de tudo. Isso está expresso na obra e na própria declaração de Britto Velho, que diz: “Vejo o homem sempre só, isolado, mesmo que o coloque dentro de um grupo”.

Personagens de conotação erótica estão presentes na fase mais recente da obra de Britto Velho, sempre em constante expansão. Sobre isso, diz Angélica Moraes: “São seres pintados que, afinal, dizem mais sobre a sociologia deste final do milênio do que qualquer outro retrato realista”.

A arte de Britto Velho ultrapassou as fronteiras do nosso País, do nosso e Estado, e se expressou em diversos lugares do mundo, com exposições, à convite, em Zurich, Lisboa, Washington e Montevidéu.

Se fôssemos aqui enumerar todas as obras e participações públicas que esse artista teve ao longo da sua carreira - quer seja em âmbito local, nacional, ou internacional -, levaríamos tempo para que pudéssemos retomar a longa e brilhante trajetória de Britto Velho, que nos orgulha, que orgulha o Rio Grande, que orgulha o Brasil.

Queríamos, então, neste momento em que agraciamos com a Comenda Pedro Weingärtner, esse porto-alegrense que há tanto tempo vem contribuindo para o enriquecimento das artes plásticas da nossa Cidade e do nosso País, dizer a Britto Velho: Muito obrigada por aceitar nossa proposta. Aos seus familiares, amigos e artistas plásticos aqui presentes, obrigada pelas suas presenças. Isso nos permite aproximar um pouco o mundo da política ao mundo da arte, e assim ampliar, enriquecer e humanizar o nosso cotidiano. Isso suaviza o árido cotidiano da política.

Obrigada pela unanimidade de todas as Bancadas e de todos os partidos; isso nos permitiu o privilégio de entregar a Britto Velho a Comenda Pedro Weingärtner. De parabéns está a Câmara de Porto Alegre e está o nosso Município por este momento, por este reconhecimento e por esta homenagem. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Ver. Raul Carrion está com a palavra e falará em nome das Bancadas do PC do B e do PT.

 

O SR. RAUL CARRION: Sr. Presidente, Sr.as Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Ao preparar esta intervenção rápida neste dia de homenagem ao Carlos Carrion de Britto Velho, foi impossível para mim separar a análise da obra artística desse grande pintor porto-alegrense, gaúcho, brasileiro, e certamente, universal, da grande figura humana que é o Carlinhos, como nós todos, os primos, o conhecíamos, com quem tive a oportunidade de privar, apesar de todos os momentos em que ele vivia na Argentina com o Julinho, que está presente, nosso primo. E nós nos víamos muito esporadicamente, quando o Tio Victor e toda a família vinha a Porto Alegre. Mas interessante é que era uma convivência muito intensa, que só hoje, quando se lê que a família esteve praticamente dez anos na Argentina, nos damos conta, porque nos lembramos perfeitamente daquela convivência entre os primos. E sempre com a sua característica da permanente alegria, a solidariedade, o companheiro para as boas e más horas. Nesse sentido, não posso esquecer quando, em 1971, encontrava-me no DOPS, preso, depois de voltar da Operação Bandeirantes em São Paulo, e o jovem Carlinhos, 25 anos, foi-nos visitar para levar a solidariedade no momento em que isso era perigoso, mal visto pelos que dominavam o País. Logo depois de solto pelos algozes do regime, a única lembrança que tenho daquele momento muito gravada, é de quando subíamos a Félix da Cunha, trocando confidências sobre o momento que vivíamos e sobre a necessidade de transformarmos o País. Trajetória do Carlinhos mostra um artista sempre aberto para o momento histórico, procurando expressar, pela arte, a sua maneira de enxergar o mundo, artisticamente engajado na sua transformação. O período de 1965/1977 é marcado pelas ditaduras militares em nosso Continente, e a obra do Carlinhos retrata exatamente esse período através da arte, dos tons escuros, dos ditadores, dos opressores da nossa América Latina. Aliás, a única coleção a que ele deu nome: Reflexões e Variações sobre a América Latina, que, aliás, já tem até certa ironia, porque as variações eram muito pequenas, todo o nosso continente, os regimes militares, todos eles também mantidos e patrocinados pelo império norte-americano, tinham pequenas diferenças, era o mesmo amo a dominar. Mil, novecentos e setenta e quatro, o Carlinhos, com uma iniciativa não só dele, mas de outros artistas, desenvolveu o Projeto “Artista vai à Fábrica”, onde levavam obras de arte aos refeitórios das empresas, procurando aproximar os trabalhadores, os operários da arte, porque é realmente um direito de toda a sociedade. Mil, novecentos e setenta e oito, os novos tempos no Brasil vão abrindo possibilidades, perspectivas de mudanças de um país rumo à democratização e novamente a cor vibrante retorna na tela do nosso artista, um artista onde esse choque de cores, esse contraste expressa também uma postura, digamos, onde os matizes, os meio tons, e as meias posições não têm muito espaço. Um homem de posições claras, de cores firmes, de contrastes. Aproveito para saudar o meu Tio Victor, o “Vitinho”, a minha grande prima que nos alegra com a sua presença. Para concluir, sei que pela emoção me estendi um pouquinho mais do que o devido, essa nova fase, conversava outro dia com o Carlinhos, por um lado alguns críticos analisam essa reengenharia do homem, homem que talvez, na visão do Carlinhos, não deu certo, homem individualizado, homem fragmentado numa sociedade que fragmenta tudo, vivemos um momento onde após modernidade em todos os campos do conhecimento na filosofia, na estética prima pela fragmentação, a dificuldade da visão do conjunto, de certa forma, eu diria que esta fase retrata isso, por um lado a busca da construção de uma reengenharia do homem, de uma nova sociedade, diria eu, por outro lado, também refletindo essa fragmentação que vemos na nossa sociedade.

Mais uma vez, parabéns a nossa grande colega Clênia Maranhão que, em boa hora, prestou essa grande homenagem ao grande artista Carlos Carrion de Britto Velho. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Convidamos a Ver.ª Clênia Maranhão para proceder à entrega da Comenda Pedro Weingärtner ao nosso homenageado.

 

(Procede-se à entrega da Comenda ao Sr. Carlos Carrion de Britto Velho.) (Palmas.)

 

O Sr. Carlos Carrion de Britto Velho está com a palavra.

 

O SR. CARLOS CARRION DE BRITTO VELHO: Agradeço especialmente à Ver.ª Clênia Maranhão, à Câmara de Vereadores por ter a honra de ganhar esse prêmio que simboliza, para mim, a aceitação da Cidade de Porto Alegre ao meu trabalho, o que me deixa muito honrado. Queria fazer uma reflexão sobre a função social do artista, já que tanto a Ver.ª Clênia Maranhão como o Ver. Raul Carrion comentaram sobre as fases do meu trabalho. Queria comentar que o artista basicamente tem uma função de refletir o seu momento histórico, social, apontando, de repente, rumos e linguagens, caminhos, não só para a pintura ou para a arte, mas sim o caminho para a sociedade seguir, espécie de fiel, de caminho, de orientação. Penso que essa é, basicamente, a função do artista, não é ficar decorando ambiente, é interessante, um quadro pode participar de um ambiente, de uma decoração, mas o importante da obra de arte, não só na Pintura, como na Literatura, no cinema, e no meu caso a Pintura, é o artista refletir o seu momento histórico, discutir, posicionar-se e deixar uma marca e um pensamento sobre o seu momento.

Como não sou orador, eu quero mais é agradecer e dizer que me sinto muito honrado e agradeço, novamente, à Ver.ª Clênia Maranhão por esta honra. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Parabenizamos a Ver.ª Clênia Maranhão por ter a sensibilidade de pinçar, entre vários artistas, Britto Velho, por tudo aquilo que foi exposto, pela sua obra que hoje não lhe pertence, essa obra é da Cidade, é do Estado, e pelas diversas exposições que foram feitas, podemos dizer que o senhor hoje é um cidadão do mundo, porque a arte não tem fronteiras, o senhor procurou popularizar essa mesma arte, a qual é uma forma de comunicação, uma forma de intenção e é um mundo de sonhos e interpretações. Portanto, nesta tarde, a cidade de Porto Alegre é que agradece e, ao mesmo tempo, pede que, cada vez mais, esse seu esforço em prol de popularizar a arte, de levar o cotidiano, realmente, possa fazer de todos nós munícipes, um agradecimento e um reconhecimento por esse trabalho que hoje está espalhado pelo mundo.

Receba, mais uma vez, a gratidão dos trinta e três Vereadores que votaram, de forma unânime, essa consideração da Ver.ª Clênia Maranhão que teve, volto a dizer, a sensibilidade de pinçar um dos maiores artistas da história do Rio Grande do Sul.

Parabéns ao senhor, à Ver.ª Clênia Maranhão, e a todos, por podermos ter este momento ímpar de estarmos aqui com o grande artista Britto Velho.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 17h35min.)

 

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